12 de set. de 2013

Dona Angela

Semana passada levei minha mãe ao médico, exame de rotina e tudo mais. Na volta perguntei se ela queria tomar um café, tarefa complicada pois ela é difícil de topar qualquer programa mas com um pouquinho de insistência... Topou!

No shopping fomos direto para a cafeteria, lá nos sentamos, fizemos os pedidos e enquanto aguardávamos notei uma senhora vez ou outra tendo a atenção de uma das garçonetes... Ela tinha um olhar que me era muito familiar, sempre achei que portadores de Mal de Alzheimer tem o mesmo olhar distante, incompreensível até.

Cada vez que a garçonete conversava com ela lágrimas lhe desciam do rosto, não me contive e perguntei à moça o que estava acontecendo com a senhorinha. Disse que ela estava perdida, sozinha, não se lembrava seu nome, endereço, tampouco o telefone de algum parente. Disse também que vez ou outra ela toma um café ali com a filha só que naquele dia apareceu sozinha e desnorteada, sem nenhum telefone para contato em sua bolsa e um telefone celular sem bateria.

Meu Deus como me lembrei do meu pai, no dia em que se perdeu e foi encontrado por uma alma caridosa que se deu ao trabalho de olhar na carteira dele e nos telefonar para que pudéssemos buscá-lo!

Voltando à senhorinha, fui até ela e pedi autorização para levar o celular até uma loja de telefonia e tentar um carregador para descobrir alguém que pudesse nos dar uma pista de quem ela era, onde morava, etc. Um rapaz na loja foi bastante solícito quando contei o que estava acontecendo e juntos ligamos para vários números que estavam na memória das chamadas recebidas e depois de algumas tentativas consegui falar com a irmã da Dona Angela, vejam só meu pai era conhecido como Angelo...

Ela me passou o endereço da Dona Angela e pediu para falar com ela. Corri até ela e disse que tinha localizado a irmã dela, aos prantos ela começou a me beijar as mãos, liguei para a irmã para que conversassem e em seguida fui orientada a colocá-la num táxi para que fosse para casa. No ponto de táxi do próprio shopping lá se foi a Dona Angela para casa, sua vida e seu destino.

Enquanto tudo acontecia como um turbilhão, minha mãe ficou ali sozinha sentada me esperando, me sentei e desabei... Foi muito mais forte que eu todos aqueles pensamentos, sensações, recordações dolorosas e saudade, muita saudade!

A noite quando já estava mais calma retornei a ligação para a irmã da Dona Angela e soube que ela estava bem e em segurança, segurança que muitos portadores de algum tipo de demência nem sempre tem a sorte de encontrar... Quantos deles não devem passar por nós despercebidos nas ruas, as vezes achamos que estão ali jogados por escolha e por fim deve existir alguém que tenta descobrir seu paradeiro sem sucesso. Dona Angela e o Sr. Angelo tiveram muita sorte!

Minha mãe claro teve que chegar a conclusão que seria melhor se não tivéssemos ido tomar o tal café kkkkkkkkk, coisas de Dona Antula. Mas eu sei e acredito que precisava estar ali naquele exato momento, alguém precisava de mim e me aguardava. Esse MAL é maldito, cruel e certeiro o que suas vítimas precisam é de muita atenção, carinho e cuidados redobrados para uma empreitada dura, mas mais tranquila e serena.

Depois do que passamos em nossa família sei que sou uma pessoa melhor, com feridas e lembranças que me ensinaram muito mas a cada dia uma nova lição nos põe à prova e assim traçamos nosso destino!


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